Ardina de Lisboa
Poema e voz de Euclides Cavaco
Pé descalço e calção roto
Imagem desse garoto
A quem chamamos ardina
Que em voz cantante apregoa
Pelas ruas de Lisboa
A imprensa matutina...
Ao romper da madrugada
De jornais cheia e pesada
Ao ombro põe a sacola
Num lesto desembaraço
Sem ter tempo nem espaço
Para os livros da escola.
E num desafio à vida
Trava esta luta atrevida
Por mercê do seu destino
Sem ter direito a brincar
Vê verdes anos passar
Sem chegar a ser menino.
Da pequena personagem
Ficou do tempo a imagem
Que perdura em cada esquina
Como um retalho de fado
Desse palco onde deu brado
A voz do pequeno ardina !...
Euclides Cavaco